quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Corpo

O mundo cai sobre minha cabeça. Sei que a ânsia de viver me oprime mais do que a ausência da morte e, por isso sucumbo suplico a minhas artérias, pois sei que aqui corre um sangue quente que aclama pela veia. O punho cortante e a mão cerrada, de tanto socar aquela parede que já é tão flácida quanto meus pés, por andar em solos maltratados, o fizeram calejar. Eis que ali (ou aqui) residiu um peito forte e empinado, na busca por um ar intragável, mas, que mesmo assim, entra pela boca e sai por qualquer outro lugar, desinfetando toda pureza que me resta, toda sanidade que ainda controla meu lado esquerdo.

E ainda por qualquer hora, hei de regressar a minha própria retaguarda, sem que precise dilatar minhas pupilas, para que permaneça gente sã e obedeça um pouco da razão restante. As feridas, as que estão dormidas, as do porvir, me estremecem as pernas e endurecem minha alma; me tenta o sangue frio.



Mergulha pelos meus ouvidos o alarde feito outrora, que me obriga escutar uma certa sinfonia deslocada no tempo, me santificando no horário nobre e me deixando uma lacuna entre as pernas. Me deixa seco. Ah! Dos cheiros que exalei, me resta a rosa de um campo perdido, àquela que busquei pra ti. Que por azar desabrocha sem que ao menos meus cílios possam enxugar minhas lágrimas novamente. E novamente toca e pulsa, o corpo, este que se enche de vazio.

Disse-me uma vez o mago de rua que aqui existe uma caixa preta. Nela me respira a alma. Por sorte é o que me resta, é o que me faz sentir os pés calejarem, é o que me faz sangrar os punhos como de outra vez. É o que me promete o frio na barriga depois da rosa dada, é o que me avisa a orquestra desritmada estando por vir, é o que me treme as pernas quando a mente não acompanha a regra. Ouviu dizer o mago também que, por anos atrás, a chamavam de coração. Mas que perdeu o sentido quando eles olharam para o próprio umbigo.