O homem corre de um lado da rua até o outro a procura de uma solução para o silêncio na escuridão. Mas ele esbarra nas paredes, esta sem saída. Cada passo é um sofrimento, cada traço definido pela escuridão representa a angustia desse homem. Ele é a escuridão, carregando consigo a sinistra e obscura fonte da perdição. É noite. O homem está louco. A libído pede para ser atendida.
Agora ele treme em frente ao portão, como se implorasse por uma saída. A rua transparece na mente entorpecida do homem no escuro. Ele tenta chorar, mas não consegue. A algo familiar naquilo tudo, parece que não é a primeira vez que ele sofre daquele jeito. A noite abraça ele, o consola e então ele se senta encolhido em um canto da rua afim de receber o afago.
Uma luz ao fundo aponta. Devagar o homem se levanta tentando decifrar aquelas cores distintas no céu. Alguns pássaros começam a assobiar e cantarolar. O dia avisa que vêm. Seus tímpanos parecem anunciar que esta por vir um provável dano cerebral. O que antes era somente o próprio Eco, agora parece um peso de decibéis. Ele tenta não ouvir tapando as orelhas com as mãos que, antes geladas, agora pulsam. Uma galinha cacareja, um cachorro late e o primeiro ser da rua se levanta junto com o sol que já desponta. O homem sem entender aquela manifestação estranha, começa a se contorcer e pedir por ajuda. Ele chama a noite que não vêm, seus olhos lacrimejam e ele enfim chora. É melhor fugir. A procura da escuridão novamente, o homem corre para sua pequena casa, evita todas as luzes vindas do exterior, guarda os olhos e põe-se a dormir, a espera novamente do momento em que os ponteiros se juntam.
Heidegger chamou de fuga de si mesmo o homem entregar-se à banalidade da existência cotidiana. O retorno dessa fuga é a angústia , na qual o homem enfrenta sua maior possibilidade, que é a damorte.