sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Prelúdio para o fim de um "solitário"

Eis que a vida em alguma hora há de fazer de você um subordinado. É quando você percebe que existe um “Eu” que vai se apagando aos poucos como se a esperança que havia, tivesse se esfarelando nas lágrimas de um tempo. O controle que possuías já não existirá quando na mente e no leito do fim, já se vê que talvez seja um pouco tarde. O rumo parece embaraçado pela visão camuflada e vigiada pelos vermes que te sucumbiram este tempo todo. Por mais que aches que está tudo bem, nunca esteve tudo bem, o sentido que escolhestes para a vida não é o sentido que pulsa em teu peito.


Então resmungas que todos te parecem dispensáveis, que não se teve um amigo para sete chaves, que não se fez aquela viagem que tanto imaginou. Que um sonho possível torna-te em si uma saudade do que era sonhado. Aí sentas na mofada poltrona que te faz companhia, um abajur de luz fosca e uma televisão que parece definir o silêncio do lar. Não adianta mudar de canal, estás sozinho.





Escolhas foram feitas, a vida já te traçou e traçaste-a como mera coadjuvante. Não existem soluções que te levem a liberdade da sua solidão. Não existem forças para te levantar, a sua época já se fora, então continuas a carregar nas costas aquela pedra que ninguém te ajudou a levar. Os erros vêm à tona e a tua face parece te derreter, os dedos parecem adormecer e a visão ficaste trêmula. Chamem o doutor, agora! Mas como? Não existe ninguém em casa.




Recomendo que assistam o filme "O Lutador" com Mickey Rourke.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Entorpecidos da Guerra

Entre os rostos entorpecidos de vontade e as mágoas deixadas no chão ferido de sangue, o homem rasteja e aponta mais uma vez. A arma que fere com ferro o peito do inimigo fere o peito da esposa e seu filho. Chora aquele que de longe vê, aquele que de perto olha, engole seco e atira pro alto. Nas trincheiras, ocupada pelas tropas, o soldado joga granada e prepara a artilharia pesada. O peso da partida que segue na mente enraivecida protege o homem do mais duro caminho. As noites sem dormir se transformam nas grandes diversões desses homens transtornados e transformados sem alma.






O patriotismo que impera e empurra a razão pra qualquer direção. As entranhas que se desfazem no corpo “sol dado” do calor escaldante. As melancólicas histórias dos velhos que lembram daquele dia. Sentados nas suas poltronas, fumando os velhos cigarros e com os velhos mesmos hábitos, os hábitos. O orgulho te ter servido sua pátria e a tristeza de ter deixado a vida no chão da batalha perdida. Independente de ter sido ganha. É dependente do garoto que se explodiu a testa, dependente da mãe que se fez chorar, dependente do seu amigo que morreu atirando, dependente daquele que se viu entrar na frente do fogo. Dependente de guerra. E agora sai na rua e nada mais impressiona. Não existe conflitos. A cabeça sente falta daquilo que fez a mente virar permanente e procedente de qualquer aceitação do pavor da morte.


O soldado quer pegar sua arma de novo, sinalizar e dar passagem. O soldado quer ferir e sentir a ferida. O homem de guerra quer enlouquecer. Porque ser normal não dá pra ser em guerra. O soldado quer puxar a granada e queimar algumas árvores e de repente, vê se queima um inimigo. Na guerra não dá tempo para lamentar a morte de quem se podia ter feito algo a mais. Na guerra, escolhas que devem ser feitas em segundos. Na vida, escolhas são feitas após anos. Na guerra, não há o “seu” tempo. E sabes que quando há de voltar, o tempo há de andar. E o rosto entorpecido da batalha, não permite que se leve o tempo, nem permite que a vida recupere o tempo.




Qual é a graça dessa vida quando se vive a guerra?



"Minhas mãos estão presas
Os bilhões passam de um lado para outro
E a guerra continua com orgulho de mentes lavadas
Pelo amor de Deus e por nossos direitos humanos
E todas essas coisas são deixadas de lado

Por mãos sangrentas que o tempo não perdoará
E que são lavadas pelo seu genocídio
E a história esconde as mentiras de nossas guerras civis"

(Axl Rose, Duff McKagan, Slash)


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um tal congresso de quê?

E de repente numa conversa de boa hora, surge no papo, um tal congresso de conhecimento. Na terra do calor e praia cheia de sabor. Sabor de mulher, cerveja e axé.

E tudo vai se organizando conforme a vida vai nos guiando e o dia em que se deve partir há de vir. Ônibus lotado e ninguém finge estar sem estar. Não há motivo para qualquer tristeza, logo em frente existe muita gente pronta para te fazer sorrir. Mesmo que nos dure as cansativas 15 rodadas dos principais ponteiros, a gente aguenta.
A gente aguenta esse sol na cara e bebe logo aquela gelada pra poder ficar ventilado pela brisa que vêm da areia. E as mulheres se juntam formando o contorno brasileiro e instituindo as leis do movimento, elas comandam quem vai e quem não vai. Elas estão no controle. Os homens, apenas com suas lupas descaradas, esperam uma chance de fazer a garota dar umas boas gargalhadas.

A batida de um funk descontraído agita um pessoal desinibido. Longe da terra natal, pouco é o que não se espera. Enquanto o sol atinge o seu ápice, a sede começa a bater forte, mas ninguém quer matá-la com água. Salivas vão rolar. A vantagem fica por conta de quem segue a risca da pedida feminina. Os homens que saem das fábricas. Segue o modelo ser forte, ter cabelos espetados, óculos escuros e sunga. Esses levavam a vantagem. Mas nada que um pouco de malícia não ajude os mais fracos. Algumas vezes, algumas vezes, que fique bem claro, um papo cabeça é que faz a diferença.

Quando parece que tudo está se cansando e o sol já caminha se pondo, a noite aguarda cada um dos confinados. E que a festa não termine, porque o Brasil quer nos mostrar sua beleza. Ah! Mulher brasileira, porque tu fazes assim com o pobre menino? Como se cria coragem para peitar você de frente? Quando verei cenário mais belo? Quando irei me alucinar novamente a ponto de ver minha mente explodir? E quando você menos espera, ela explode. Explode pra sentir a energia daquele lugar todo. Na verdade, todo mundo explode num lugar como esse. Que se deixe em casa todo o medo que se tinha da vida.

Teve gente que foi a procura de um sotaque e acabou procurando por outro. E até hoje acredita, que ali era a vida em jogo. Teve gente que desapareceu por dois dias e nem sabe onde estava. Teve gente que aprendeu a falar “visse”. Teve gente que botou pra fora toda agonia de três dias. Teve gente que fez gente. Teve gente que acreditou que isso servia ainda pra estudar? Teve gente que saiu de lá achando muita coisa, mas pensando em uma única coisa. Saudades.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Até aí tudo bem, né? (Capítulo II ou Final)

*Eu admito a enrolação, admito que passou do prazo de ser escrito mas, promessa é dívida. Então para que fique claro este post será exclusivo para o término do texto “Até aí tudo bem, né?”. Então qualquer dúvida sobre este, basta ir com o mouse dois posts abaixo e assim esclarecerá suas dúvidas. Vamos lá.

Parte I – Na merda.

Lá estava eu, com uma borrachina de fone entalada no ouvido direito. Nada bom. It’s not good, man. I’m so fucked right now. Veja só, o que é a nóia em uma pessoa. Com a borrachinha no ouvido e o meu rosto suado e com feições distorcidas de preocupações, parecia que cada pessoa que olhava pra mim sabia que o fone tava dentro de meu ouvido. Ali, no ônibus, eu não via a hora de alguém falar pra mim algo do tipo “ei cara, tem uma porra aí no seu ouvido” ou então somente ri de minha cara, ou melhor, do meu ouvido. Eu estava tenso, contando os minutos para que o ônibus parasse na faculdade. A agonia era grande, eu sabia que mexer era pior, mas mesmo assim era impossível não cutucar, o negócio doía e parecia que realmente tinha alguma coisa no ouvido. Mas, até aí tudo bem, né? Vai ver que com um pouquinho de calma o negócio sai sozinho. Sai nada.

Chegando à faculdade primeira coisa feita foi ir ao banheiro mais próximo, abrir o ouvido e vê se encontrava alguma coisa. Tentei tirar foto, cutuquei com graveto e não sentia a borracha do fone. Aí comecei a pensar. Será que está dentro do meu ouvido mesmo? Vai ver que meu ouvido inflamou. Sei lá. Bom, eu sei que o negócio doía cada vez mais. Parecia que tinha um boxeador acertando meu tímpano com vários jabs de esquerda e direita. Tava complicado, cada vez mais complicado. Os rounds se passavam e nenhuma solução para o problema. Então, liguei pra minha mãe.

Pra quem não se lembra no primeiro post sobre o acontecido, eu disse que havia gastado os dois reais no ônibus e a carteira de passe não estava comigo. Ou seja, como voltar para casa? Liguei pra minha mãe e mandei ela me tirar daquela bad trip. Tava sem meios de locomoção e no momento ninguém com quem eu pudesse chegar e pedir dinheiro emprestado pra voltar de ônibus pra casa, para de lá, ir para um hospital. Até aí tudo bem, né? Minha mãe disse que ia dar um jeito de resolver aquilo. A primeira proposta foi minha irmã me buscar de ônibus na universidade e de lá a gente ir para um hospital, porque no momento mamãe trabalhava e não sabia nem dá metade do meu azar naquele dia.

Parte II – Saindo da universidade
Passei em um trailerzinho na faculdade e encontrei um pessoal conhecido. Informei-os de meu problema e insistiram em dizer que aquilo era normal, ter a sensação de estar com a borrachinha do fone no ouvido, na verdade era só impressão minha. Eu tinha quase 100% de certeza que o negócio tava ali, mas quem vai saber? Me avisaram que na reitoria tinha um lugar em que um médico ficava lá, coçando o saco, a espera de algum acidente. Então me dirigi até lá, mas adivinha? Nada de médico na reitoria. Novidade? Nenhuma. O que é que a faculdade federal do meu estado têm que não seja voltado para direito e para o hospital universitário? Gato e cachorro, só. Aí na hora, fiquei puto mesmo. Só que surgiu uma luz no meio de uma imensa escuridão. Minha mãe ligou dizendo que minha prima estava indo até minha pessoa para levar-me a um hospital.
Alguns minutos depois minha prima chegou. Minha irmã estava com ela e contei às duas o meu problemas que, na verdade e falando sério, é engraçado. Mas ao mesmo tempo, imagine a situação. As duas rindo de mim e eu com a porra do ouvido doendo, parecendo que tava acontecendo uma prévia do sete de setembro lá dentro. Mas, até aí tudo bem, né? Precisa ver quando eu cheguei no hospital.


Parte III – Amanhã será outro dia

Chegamos ao hospital, procuramos o nome do doutor naqueles quadros que sempre existem no térreo e enfim, fomos até o bendito salvador. Entrando no consultório do médico, percebi muita movimentação, muita mesmo. Tentei me acalmar, preenchi uma ficha e a secretária informou que meu nome estava na lista. Até eu saber que eu era o décimo terceiro da fila, tava tudo bem. Olhe que eu assisti Brasil e Estônia – aquele belíssimo jogo de futebol – todo e ainda o começo de um filme infantil de um cavalo que não se deixava ser domado. Então, agora pensa na minha cara nessas 2 horas e meia esperando minha vez? Com o ouvindo pulsando de dor me lembrando às vezes uma bateria de escola de samba pronta pra entrar no sambódromo. Mas, aí entrou uma senhora, era a última pessoa antes de mim. Eu pela primeira vez naquele dia abri um sorriso.

A velha, claro, demorou bem mais do que as outras pessoas, só para confirmar que realmente meu dia não ia ser de sossego mesmo. Enfim, meu nome foi aclamado: “Daniel, pode entrar”. Vibração total, meu ouvido vai voltar ao normal. Entrei na sala do médico. Expliquei para ele minha situação com aquela belíssima cara de bunda feita por todas as pessoas quando passam por situações similares a essa. Porque, sinceramente, isso acontece com criança e não com um jovem. Mas aconteceu e o médico afirmou que aquilo era mais comum do que eu imaginava. O doutor me chamou para sentar em uma cadeira. Botou um aparelho no meu ouvido. Olhou e disse que o negócio tava lá mesmo. Eu fiquei feliz porra – pra você ver como o dia foi tão ruim, que eu fiquei feliz com a confirmação do fone no meu ouvido, olha o nível de felicidade que eu cheguei neste dia – eu sabia que o negócio tava lá e tinha gente que teimava que não.



“Pô meu amigo, você enfiou mesmo esse negócio no ouvido”. Essa frase usada pelo doutor marcou. Claro, agora estava explicado o porquê de tanto cutucar e não sentir direito a borrachinha. Ele disse que o negócio tava lá dentro mesmo. Bom, enfim saiu tudo certo, a borrachinha caiu no meu colo assim que ele a tirou com uma pinça gigante. O dia estava melhorando para mim. Só não foi melhor porque o doutor esqueceu o meu pirulito. Na próxima eu cobro.

Enfim, chegando em casa, eu agradeci minha prima e então fui descansar daquele dia horrível. Mas, lembrei que tinha aula ainda às 19 horas e eu ainda teria que me deslocar novamente para faculdade de ônibus. Para bom entendedor, meia palavra basta. Um dia cheio de azar, tudo errado aconteceu. Pense. Se eu fosse um bom entendedor, iria sacar que ficar em casa seria a solução. Já que em casa, impossível ter tanto azar.A probabilidade de acontecerem “cagadas” em casa, era muito menor do que na rua. Infelizmente, eu não sou um bom entededor por isso me desloquei pra faculdade, onde chovia e eu estava de chinelo. Ao chegar lá acabei percebendo que não haveria aula, e eu não teria mais aula aquele dia. Ou seja, fui para universidade pra nada neste dia. Nem de tarde e nem de noite. Chegando no terminal da faculdade ás 19 horas e 40 minutos, o ônibus só foi me passar 20 horas e 30 minutos. Eu nem me importava mais com aquilo tudo, estava escrito nas estrelas, na cara das pessoas que me encaravam, nos ônibus das cidades, nas borrachinhas de todos os fones da Sony Ericsson, nos doutores e suas filas gigantes de pacientes que aquele não era meu dia, não era mesmo.

Mas, até aí tudo bem, né? Amanhã pode ser você, meu caro!!





hahahahaha!