sexta-feira, 13 de maio de 2011

O homem da meia noite

As luzes se apagam, as pequeninas casas vão cessando aos poucos os últimos movimentos. Sons remotos são emitidos no beco. As portas se fecham. A meia noite na “rua sem saída” se aproxima. Uma mulher ainda tenta, com passadas largas,chegar a sua casa. O cachorro que estava na rua caçando cadelinhas, se põe a frente da porta de seu dono e espera o começo do novo dia. A última gargalhada se ouve em uma das casas, era o último riso do dia.

Um único poste de luz anuncia uma rua vazia e sem vida. O portão de entrada não permite mais a vinda e a ida de ninguém. Uma criança chora simbolizando o começo do sofrimento. Mas é preciso silêncio, a meia noite já está batendo em cada porta.

O relógio de uma pequena casa no fim da rua toca. Uma luz acende, a sombra do homem parece contornar o medo da rua. A porta da casa se abre. Com um chapéu, o velho caminha até o início da rua, tenta escapar, mas percebe que está sem saída. Ele grita, esbraveja e tenta suplicar pelo mundo lá fora. Ninguém responde. Com um cigarro tirado do bolso, o fumo suplica pelo fogo. Fogo! O isqueiro exclama e ele observa a luz. Queimando a sua mente perturbada de baforadas cinzentas e frias, o homem encolhe-se. A noite é quente, mas seu corpo está gelado.


O homem corre de um lado da rua até o outro a procura de uma solução para o silêncio na escuridão. Mas ele esbarra nas paredes, esta sem saída. Cada passo é um sofrimento, cada traço definido pela escuridão representa a angustia desse homem. Ele é a escuridão, carregando consigo a sinistra e obscura fonte da perdição. É noite. O homem está louco. A libído pede para ser atendida.

Agora ele treme em frente ao portão, como se implorasse por uma saída. A rua transparece na mente entorpecida do homem no escuro. Ele tenta chorar, mas não consegue. A algo familiar naquilo tudo, parece que não é a primeira vez que ele sofre daquele jeito. A noite abraça ele, o consola e então ele se senta encolhido em um canto da rua afim de receber o afago.

Uma luz ao fundo aponta. Devagar o homem se levanta tentando decifrar aquelas cores distintas no céu. Alguns pássaros começam a assobiar e cantarolar. O dia avisa que vêm. Seus tímpanos parecem anunciar que esta por vir um provável dano cerebral. O que antes era somente o próprio Eco, agora parece um peso de decibéis. Ele tenta não ouvir tapando as orelhas com as mãos que, antes geladas, agora pulsam. Uma galinha cacareja, um cachorro late e o primeiro ser da rua se levanta junto com o sol que já desponta. O homem sem entender aquela manifestação estranha, começa a se contorcer e pedir por ajuda. Ele chama a noite que não vêm, seus olhos lacrimejam e ele enfim chora. É melhor fugir. A procura da escuridão novamente, o homem corre para sua pequena casa, evita todas as luzes vindas do exterior, guarda os olhos e põe-se a dormir, a espera novamente do momento em que os ponteiros se juntam.



Heidegger chamou de fuga de si mesmo o homem entregar-se à banalidade da existência cotidiana. O retorno dessa fuga é a angústia , na qual o homem enfrenta sua maior possibilidade, que é a damorte.

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